Empatia, escuta e dignidade marcaram a noite dessa quinta-feira (15/5), durante a ação “Mãos Amigas” promovida pela Prefeitura, no Sambódromo. A iniciativa é voltada para o acolhimento e cuidado com a população em situação de rua, e envolveu diversos órgãos da administração municipal, voluntários e representantes da sociedade civil para garantir direitos e abrir caminhos para a transformação da realidade de quem vive nas ruas.
Com corte de cabelo, projeto “Banho de Amor”, apresentações musicais e um jantar solidário, a proposta do encontro era simples: sentar à mesa, ouvir, ser ouvido e oferecer cuidado. Sentar-se lado a lado, compartilhar a comida e as histórias, criando um ambiente de confiança para pensar no futuro e fora da rua.
Durante o evento, foi apresentado aos participantes o projeto “Camp Pop Rua”, um acampamento que vai acontecer de sexta a domingo (16 a 19 de maio), em um sítio parceiro da Prefeitura. Ao total, cerca de 50 pessoas escolheram seguir para o espaço, onde vão participar de oficinas, rodas de conversa, atividades culturais e dinâmicas em grupo. O objetivo é oferecer um tempo de cuidado intensivo, fora das ruas, para que possam iniciar ou aprofundar um processo real de mudança.
“O objetivo da ação é criar uma relação de confiança com eles e saber quem está realmente interessado nesse acolhimento. Quem quiser, vamos levar para o acampamento. Lá, vamos propor novas possibilidades, ajudar a organizar documentos, superar vícios, acessar serviços de saúde e buscar oportunidades de trabalho. É um passo de proximidade, afeto e construção conjunta”, explicou Kaka Menezes, assessor da Prefeitura e mobilizador da ação.
Kaká enfatiza que muitas vezes a pessoa em situação de rua deseja sair dessa condição, mas ainda não tem vínculos suficientes para confiar no processo. “É preciso criar relação de afeto e confiança. A rua ensina a sobreviver, mas não oferece caminhos. Esse acampamento é uma chance concreta de apresentar novas rotas”, completou.
A coordenadora do Centro Pop, Raquel Januzzi, destacou o impacto da ação na construção dessa confiança. “É fantástico, muito importante essa ação, porque motiva cada um de nós a continuar lutando e cuidando das pessoas que estão nas ruas. A expectativa é acolher mais pessoas com atendimento especializado, encaminhamentos, emissão de documentos, acesso a benefícios sociais. Tudo isso fortalece o vínculo com essas pessoas”, afirmou.
Entre os participantes da ação, uma história chamou a atenção: a de P. B. R., de 44 anos, que hoje vive nas ruas de Contagem, mas já trilhou caminhos improváveis e corajosos. “Sou viúvo, minha esposa morreu de câncer. Entrei em depressão, usei droga e fui parar na rua. Mas a rua também ensina o certo. Com o tempo, comecei a organizar comida para outros moradores, ajudei a liderar uma manifestação pacífica com 50 pessoas e virei conselheiro da assistência social da cidade”, contou.